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“Das mil solidões adstritas ao terrível ofício de poeta”
Acabei de ler, e tem inúmeras pestaninhas coloridas, o livro de José Gomes Ferreira, “Relatório de Sombras ou A Memória das Palavras II”, de 1980. É dele a citação em título.
É texto. Tem sumo.
Descobri o exemplar, 1ª Edição, num Alfarrabista.
Encontrei, porque andava à procura. A melhor forma de comprar num alfarrabista é saber o que queremos. Senão, perdemo-nos. Eu pelo menos perco-me.
Ali se fala dos escritores contemporâneos dele (José Gomes Ferreira) e se dá nota dos dissabores e dificuldades de poetas como Cesário Verde, Florbela Espanca, Irene Lisboa, Teixeira de Pascoaes, etc. Ali se deixa para a posteridade um testemunho do meio literário, que não se tinha alterado durante a vida do escritor e, para nossa pouca sorte, se mantém ainda em 2022.
Senti-me em casa!
E porquê?
Porque acabei de lançar uma antologia minha. Quatrocentas e cinquenta páginas, que só meia dúzia de pessoas percorrerá.
Do autor de “Relatório de Sombras”, a páginas 30 e 31:
“Mas… concluída a obra, espera-o ainda outra solidão, talvez em certos casos mais trágica do que a famosa incomunicabilidade das almas agora em moda. O desinteresse, a indiferença, o vazio social, em suma, onde os livros caem como pedras de papel em poços forrados de lã, para lhes amortecerem os ecos.”
Foi verdade! É verdade! Já era assim no tempo de Luís Vaz de Camões (no sec. XVI).
Alguns, mas só alguns, ganharam notoriedade após a morte. Outros, nem isso.
Que me interessa, que me conforta a mim, o que puderem apreciar-me depois de morta?
Nem flores, nem floreados, atiçarão cinzas.
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